Por Heraldo Palmeira
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Fase da Lua
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7 de novembro de 2024

KALUNGA MELLO NEVES Simples opinião

Geralt (Gerd Altmann)/Pixabay

Simples opinião

  • Kalunga Mello Neves

As águas voltaram a cair novamente no Sul, não com a mesma intensidade, mas com a força suficiente para reacender temores e tornar doloridas recentes cicatrizes. Nossa mídia ainda não alardeou aos quatro ventos a notícia, para que o país inteiro fique sabendo o novo drama dos gaúchos. Enquanto isso, o Flamengo empata no último minuto, e Zé Geraldo acha que não vale mais a pena dar milho aos pombos.

Agora, o aborto toma conta das discussões políticas, religiosas, oportunistas, moralistas, sensatas e oportunas. Está em todos os cantos. No meio delas, a família toma o centro do palco por razões óbvias. O mais impressionante é a hipocrisia de tantos que trabalharam para impor novos conceitos e modelos familiares, exigirem agora que as ramificações éticas e morais dela continuem vivas. Não estranhem sorrisos com lágrimas ácidas, condolências respeitosas sem afastar os olhos do celular. Aqui tudo pode e a saúva continua pedindo passagem neste mundão de Macunaímas. Basta lembrar que o pesquisador francês Yves Saint-Hilaire, alarmado com a voracidade das bichinhas destruindo tudo, cunhou em 1800 a frase que ecoa até hoje: “Se o Brasil não acabar com a saúva, a saúva acaba com o Brasil”. As formigas cortadeiras estão goleando desde então.

Saudosos tempos em que se tinha opinião, e principalmente, em que opinião era ouvida com respeito e consideração. Depois vinha a discordância, um semblante irônico de resposta, um seguir cada qual sua ideologia. Mas a amizade continuava, por instantes azeda, depois adocicada novamente. E a beleza da Lua cheia era uma unanimidade, como o eram os imensos jardins de girassóis que víamos nos filmes de nossa infância.

O desaparecimento anunciado do noivado foi um baque e tanto para o amor. Ficou um vazio irreparável entre o namoro e o casamento. Percebi romanticamente que o Dia dos Namorados anda tão sem gracinha que, antes da meia-noite, já acabou. É só terminarem os reclames nas rádios e televisões, as lojas estarem satisfeitas com suas vendas, que se troca o cenário e viva Santo Antônio!

Não sei se bati a cabeça ou tomei vinho demais. Eu me sinto lúcido como um santo de barro, ou um violinista em algum telhado. Vale a reza porque importa a fé. E pouco importa que seja apenas um filme que está passando em minha cabeça. Mas que me resta alguma esperança, isso sim, pois dela jamais abrirei mão. Também não vou abrir mão da minha opinião; muito menos tentar convencer alguém de nada.

*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante

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