Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

HORÁCIO PAIVA Legítima defesa coletiva

Reprodução/Internet

Legítima defesa coletiva

  • Horácio Paiva

Estive em Bari, sul da Itália, cidade portuária na orla do mar Adriático. Realizava minhas viagens vivendo a História. E ali o destino que me fazia sonhar era a Grécia, a começar pelo Golfo de Patras, onde, na Baía de Lepanto, ocorrera a famosa batalha entre cristãos católicos e turcos otomanos, islâmicos, que invadiam a Grécia e punham em alerta a Itália e, portanto, o próprio Vaticano.

De Bari, fiz o trajeto até a cidade de Patras navegando à noite, num navio de passageiros. No desembarque, pela manhã, encontrei a cidade em festa: havia passeata e comício do Pasok, Partido Social-Democrata Grego, do então primeiro-ministro Andréas Papandréu, que disputava eleição naquele ano contra a Nova Democracia, coligação de centro-direita (afinal vitoriosa).

Mas eu buscava o passado, e o trago aqui como um entre inúmeros exemplos históricos que bem simbolizam a utilização da legítima defesa coletiva, e este, a Batalha de Lepanto, ora narrado, a própria defesa da corporação eclesial católica e dos Estados papais, quando também em risco a vida daqueles que os dirigiam.

A memorável Batalha Naval de Lepanto ocorreu no golfo de Patras, baía de Lepanto, na costa da Grécia, no contexto histórico da expansão do império otomano e seu avanço sobre a Europa e o mar Mediterrâneo (o antigo mare nostrum dos romanos). Em terra, os otomanos haviam chegado às portas de Viena e, em mar, conquistaram Chipre e avançaram sobre a Grécia, levando às repúblicas e reinos da Itália, inclusive aos Estados papais ali constituídos, iminente risco de ocupação. Entretanto, essa batalha marcou também o fim do avanço turco e da expansão islâmica no Ocidente.

Já em 1570, o papa Pio V sentia o perigo dessa possível invasão à Itália, com a ocupação do Vaticano e dos demais Estados papais, e clamava ajuda aos governantes cristãos ocidentais, conseguindo, no ano seguinte, com dificuldades inerentes à época, formar uma esquadra de defesa para o possível confronto militar, tendo a participação da República de Veneza, do Reino da Espanha, dos Estados Pontifícios, da República de Gênova, dos Cavaleiros de Malta, que passaram, juntos, a integrar a chamada Santa Liga.

A batalha entre a Santa Liga e o império otomano ocorreu no dia 7 de outubro de 1571, a partir das 11h30 da manhã e durou dez horas, com a vitória dos cristãos e hasteamento da bandeira do papa, onde antes havia a bandeira dourada de Meca.

No Vaticano, o dia da batalha foi vivido integral e intensamente como dia de jejum e oração do santo rosário pelos fiéis e o papa, e diz-se que este chegou a ter uma visão sobrenatural da vitória, quando teria, quase em transe, exclamado: “Vencemos! Vamos dar graças a Deus pela vitória que acaba de conceder à nossa esquadra.” E essa data até hoje é dedicada à Nossa Senhora do Rosário (de início, a Nossa Senhora da Vitória), cuja imagem era conduzida na nau capitânia da esquadra da Santa Liga em Lepanto.

Uma curiosidade – dita, sobretudo, para os que, além da História e do direito, amam também a literatura: Cervantes, o genial criador do Dom Quixote de la Mancha, também participou dessa famosa batalha. Ali ferido, sobreveio-lhe o apelido de “el Manco de Lepanto”.

*HORÁCIO PAIVA, advogado e escritor

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