Por Heraldo Palmeira
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22 de novembro de 2024

Moda em farrapos

Balenciaga/Reprodução

Moda em farrapos

  • Heraldo Palmeira

O costureiro espanhol Cristóbal Balenciaga era um homem de personalidade forte e icônica. Nascido em uma pequena cidade, filho de um pescador e uma costureira que lhe ensinou o ofício, fundou seu primeiro ateliê em San Sebastián aos 22 anos, em 1917. Não demorou, instalou filiais em Barcelona e Madri e sua clientela era composta pela aristocracia e família real.

Em 1937, para fugir da Guerra Civil Espanhola, Balenciaga fechou seus ateliês e se mudou para Paris, onde abriu a Casa Balenciaga na luxuosa avenida George V. Sua moda ganhou fama pelas linhas perfeitas, tecidos de altíssima qualidade, ousadia e minimalismo, e a grife viveu seu apogeu nas décadas 1950 e 1960.

Christian Dior o chamava de “o mestre de todos nós”. Coco Chanel considerava-o o único dos costureiros autênticos por dominar todo o processo da produção, desde o desenvolvimento do tecido. Hubert de Givenchy dizia que ele foi o maior arquiteto da alta costura. Reconhecimento natural para quem teve Oscar de la Renta, Pierre Cardin e Emanuel Ungaro como aprendizes.

Em 1968, Balenciaga decidiu fechar as portas para se aposentar. Em 1986, os direitos foram comprados por uma empresa e teve início o processo de reconstrução da marca.

Não é de hoje que a Balenciaga movimenta o mercado da moda ao lançar itens que causam estranheza ou incômodo estético. Na lista, camiseta com camisa pendurada, sandálias Crocs de salto alto, bolsa que parece saco de lixo, bolsa que vira caixa de som – parceria com a espetacular Bang & Olufsen, empresa dinamarquesa que produz jóias sonoras –, tênis detonado com aspecto imundo e, mais recentemente, brincos e pulseiras de cadarços de tênis.

O diretor criativo da marca Demna Gvasalia, que assumiu o posto em 2015, demonstra ter a mesma visão vanguardista do fundador e dobrou o faturamento da empresa. Ele adora o alvoroço registrado nas redes sociais e tenta explicar as razões para essa tendência distante do luxo original – embora os preços se mantenham no padrão de alto luxo.

Nascido na Geórgia, país que foi invadido pela Rússia, ele tenta explicar a tendência desses produtos tão inesperados como um propósito de ir além dos padrões impostos pela indústria. “Sinto que meu desafio e responsabilidade como designer hoje é questionar o que é beleza. Por que seguimos as regras de 50 anos atrás? Eu não cresci em Versalhes. Eu sou um refugiado. Eu precisava buscar beleza em tudo”, afirmou. Demna propõe questionar a ideia da moda perecível e luxuosa num ambiente de pobreza, acreditando que os preços proibitivos de sua grife servem de elo com jovens milionários interessados na sustentabilidade e bem-estar coletivo.

Uma viagem e tanto que pode ser feita com os pés calçados num estranho e detonado tênis Paris Sneaker  – edição limitada a 100 pares e vendido por cerca de R$ 10 mil.

Saiba mais

https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/05/10/balenciaga-lanca-colecao-de-tenis-sujo-e-rasgado-por-r-10-mil.ghtml

https://metropolitanafm.com.br/life-style/criacao-bafonica-da-balenciaga-desta-vez-a-grife-lancou-brinco-de-cadarco-de-tenis-por-r12-mil

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