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Mudança tem hora?
- Kalunga Mello Neves
Existe uma hora certa de mudar? Como definir essa tal hora certa? Podemos interferir ou esse relógio tem vida própria? Qual caminho seguir?
Se você pensa em levar a vida sem sobressaltos, ainda não acordou de algum sonho que lhe deixou conscientemente desacordado. Por mais alienado que a gente seja, mesmo se deixando conduzir para isso, nossa existência nem sempre quer saber e nem tomar conhecimento de nossa vontade. E o tempo, cúmplice conselheiro da dita, dita nosso dia a dia ao encontro do destino que nos está reservado, do carma que nos resta aceitar porque é dito que é assim que funciona.
A vida não é uma linha reta. Pode ser uma estrada, um caminho, uma viagem… Por que não? Uma estrada que você não sabe onde irá chegar. Um caminho que quantas encruzilhadas terá, você jamais saberá. Uma viagem que leva você involuntariamente e não pergunta onde quer ir e nem lhe avisa seu porto final.
Nascemos para ser o que somos, ou teremos a chance de escolher um novo destino, independentemente de crença, obstinação, desejo próprio? E esta chance virá ao acaso, ou nos será oferecida tal qual fosse um leve acidente de percurso em nossa trajetória aqui neste mundaréu de Deus? Como descobrir se não estamos enxergando o meio de virar a chave ou se ele simplesmente não existe?
Dúvidas sempre. Sempre incertezas. Um certo arrependimento pelas oportunidades perdidas, um conformismo adequado para amenizar indecisões passadas. Somos humanos, nada perfeitos. A resposta hipocritamente correta para nós mesmos, e que agrada a todos – nós incluídos –, é que faríamos tudo outra vez do que fizemos até agora. A felicidade, mesmo sem concordar, mas nos conhecendo de outros invernos, nos aplaudirá cinicamente.
Mas se alardearmos aos quatro ventos que tivemos a oportunidade de alterar nossa passagem por aqui, e optamos por levar a vida sem sobressaltos, sonhando com os pés no chão, a felicidade igualmente, só que agora com sinceridade, nos aplaudirá freneticamente.
A hora certa de mudar e a hora certa de continuar como está… Tanto Shakespeare quanto José da Silva nos diriam do alto de suas sabedorias: aí é que está a questão. Ser ou não ser?
*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante