Por Heraldo Palmeira
Los Angeles
Nova York
São Paulo
Lisboa
Londres
Fase da Lua
.
.
18 de maio de 2024

No fundo do poço

mh-grafik/Pixabay

No fundo do poço

  • Heraldo Palmeira e Sylvio Maestrelli

Gérson, o genial “Canhotinha de Ouro” tricampeão mundial, afirmou outro dia: “Tem que mandar toda a defesa brasileira para casa, só tem perna de pau”. O sempre ufanista Galvão Bueno, agora livre das amarras globais, afirmou em seu podcast que “essa Seleção do Diniz é a pior Seleção Brasileira que já vi desde que acompanho futebol”. O irreverente Neto pergunta indignado – “Quem?” – sobre jogadores como Emerson Royal, Matheus Cunha, João Pedro, Carlos Augusto, Yan Couto e outros do mesmo nível, fracos, desconhecidos ou inexperientes que são convocados sem qualquer explicação convincente, a não ser que atuam na Europa.

Até mesmo a pachecada insana que infesta os programas esportivos da TV, com comentários risíveis e postura bajulatória, já admite que “o Brasil não mete medo em mais ninguém”. Pois é. E quem, masoquista como nós, ainda teve o desprazer de assistir a nossas duas últimas “performances” nas Eliminatórias tem que concordar. Haja sofrimento. E raiva!

Mesmo com nível técnico apenas razoável, a Série B do Brasileirão tem dado mais prazer de ver do que o outrora “Esquadrão de Ouro”, hoje um amarelão febril, repleto de jogadores mimados que não lidam bem com críticas. Uma patota que anda vivendo de pose porque joga na Europa e ganha muita grana, embora, raras exceções, não protagonize muita coisa nos grandes clubes europeus.

Nossa sorte é que Paraguai, Chile, Bolívia e Peru, as seleções que estão abaixo da nossa na tabela de classificação das Eliminatórias, são ruins demais, varzianas. E olhe que terminamos a rodada 6 das 18 previstas (1/3 da competição) em sexto lugar, atrás de Venezuela e Equador, o que não é pouco! Como seis times se classificam diretamente para o Mundial, isso nos dá certo conforto e aquele alívio envergonhado pelo papelão.

As Eliminatórias sul-americanas vêm mostrando um momento sofrível do futebol do continente. Na 5ª rodada tivemos Bolívia 2×0 Peru, Venezuela 0x0 Equador, Chile 0x0 Paraguai, Argentina 0x2 Uruguai – a primeira derrota dos hermanos desde o jogo contra os sauditas na Copa de 2022 – e Colômbia 2×1 Brasil. Na 6ª rodada os resultados foram Peru 1×1 Venezuela, Paraguai 0x1 Colômbia, Uruguai 3×0 Bolívia, Equador 1×0 Chile e Brasil 0x1 Argentina.

Ao fim das primeiras seis rodadas a Argentina segue liderando sem surpresa com 15 pontos, seguida por Uruguai (13), Colômbia (12), Venezuela (9), Equador (8) – o país começou a competição com 3 pontos a menos em razão de punição da FIFA –, Brasil (7), Paraguai (5), Chile (5), Bolívia (3) e Peru na lanterna (2).

O time brasileiro passa por um daqueles penosos momentos de renovação, quando uma geração se despede sem deixar saudade. A campanha nas Eliminatórias está a cargo de uma das piores formações que vimos em campo. Os sete pontos conquistados vieram de duas vitórias contra peruanos e bolivianos, sacos de pancada do torneio, e um empate (em casa) contra venezuelanos. De quebra, o dinizismo nos legou três (justas) derrotas seguidas – Uruguai, Colômbia e Argentina.

Não há como negar que 2023 é um ano para ser esquecido em relação à Seleção Brasileira, cuja torcida vem desanimando e diminuindo a cada temporada. Começou com derrotas em amistosos contra Marrocos (2×1) e Senegal (4×2), sob o comando interino de Ramon Menezes. Diniz conseguiu piorar o cenário com tudo que tem sido visto em campo.

Pela primeira vez em sua riquíssima história futebolística, o Brasil sofreu três derrotas consecutivas para países sul-americanos em Eliminatórias. Também pela primeira vez perdeu em casa um jogo desse torneio. E ainda pela primeira vez o Brasil convocou tantos reservas (ou “meio titulares”, como rotulam os puxa-sacos midiáticos) em times do exterior para vestir a Amarelinha.

A CBF não parece capacitada a responder à altura, já que sua direção atual é simbiótica com o estado do futebol brasileiro. Basta pensar na lista recente de ex-presidentes, muito mais próxima das páginas policiais do que das esportivas. Talvez o melhor retrato do amadorismo seja o que se viu nas arquibancadas antes de a bola rolar no Brasil x Argentina, com duas torcidas de grande rivalidade temerariamente misturadas, até se estapearem ao vivo para o mundo. Nesse clima, o jogo descambou para a pancadaria.

É compreensível que muitos torcedores já mostrem entusiasmo com a possível chegada de Carlo Ancelotti para assumir o comando do time a partir de julho de 2024, desejando que não prospere essa conversa de Fernando Diniz permanecer como membro da futura Comissão Técnica. Ninguém aguenta mais esse “Professor Pardal” à frente da Canarinho e sendo tratado como revolucionário autor de um tal “futebol de assinatura”, seja lá o que signifique essa bobagem.

Os mais céticos seguem duvidando que o italiano recuse a proposta de renovação do seu milionário contrato com o Real Madrid por mais duas temporadas, para vir se enroscar com uma barafunda que parece não ter saída – o português José Mourinho, com cara de desinteressadíssimo no cargo, é uma das vozes mais ativas a respeito da “desistência” de Ancelotti.

Venha quem vier, não será trabalho fácil aplicar uma mentalidade profissional num ambiente onde técnicos se submetem a caprichos de “craques” fabricados pela mídia, pressão de empresários e onde existe uma tal “neymardependência”. Com o circo de horrores apresentado nos últimos jogos das Eliminatórias, muita gente começou a aceitar até que aquele time amassado pela Alemanha nos 7×1 não era tão ruim, que há gente muito pior do que Tite. O da vez deu de dizer que “o resultado não é o mais importante”. Mais um pouco, convence a FIFA a não contar pontos com base no placar dos jogos.

Tá difícil? Vale anotar o que poderá acontecer: Ludmilla convidada a cantar o Hino Nacional nos próximos jogos. Ancelotti desistir do que nunca confirmou. Mourinho surgir como plano B. Diniz ficar. Neymar voltar como salvador da pátria de chuteiras. Nossa Seleção, a única que disputou todas as Copas do Mundo, finalmente ficar de fora de um Mundial com 48 equipes porque não andamos com essa bola toda faz tempo. Melhor dizendo, não andamos com bola nenhuma..

As Eliminatórias voltarão à disputa em 5 de setembro de 2024. Até lá, tempo de espera na escuridão.

©