Por Heraldo Palmeira
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7 de novembro de 2024

KALUNGA MELLO NEVES O administrador de vaidades 1

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O ADMINISTRADOR DE VAIDADES 1: Qual vaidade escolher?

  • Kalunga Mello Neves

Comecemos didaticamente corretos pelo significado de vaidade, que vem a ser o cuidado exagerado da aparência, pelo prazer ou com o objetivo de atrair a admiração ou elogios de terceiros. É a necessidade de se vangloriar, ostentar, exibir.

Vamos agora direto ao ponto. Ou quase isso. Com meus botões, enquanto caminhava pelo calçadão da linda praia onde já me considero um nativo, trocava algumas ideias. Se eu tivesse – nesta fase em que me encontro – oportunidade de ainda ter uma outra profissão, qual esta seria? Silêncio para observar ao alto o voo de uma gaivota.

Despertei curiosidade em meus botões. Eu seria um administrador de vaidades, respondi. Uma risada salgada ressoou ao léu. Como ninguém havia pensado nisso antes? A proliferação de especialistas em todas as áreas invadiu até nosso mais vastíssimo vácuo imaginário. Tem de tudo hoje em dia. Na medicina, da ponta do pé ao cabelo, ou à falta dele, tem profissionais dedicados a solucionar problemas em toda e qualquer parte do corpo humano. Na engenharia, da elétrica à mecânica, tem a civil e outras mil. E assim o é na advocacia, tanto na séria como na outra, e nas demais profissões que nossa vã sabedoria conhece. E como ninguém havia pensado antes em ser um administrador de vaidades?

Primeiro que, matéria-prima, vaidade in natura, temos de sobra, do Sul ao Norte, ida e volta, o que nos auxiliaria bastante, fornecendo-nos insumo para nosso deleite e realização financeira. E a cada vez mais ampla diversidade provavelmente garantiria clientes de “todes” as peles, “gêneres”, “crences” – será que deveria manter o cedilha, grafar “crençes”? Vá saber!

A formação, pré-requisitos, coisa e tal, seguiria os critérios acadêmicos habitualmente utilizados no Brasil, o que significa que nem vale a pena explicar, tão confusos e inócuos se mostram ao largo do tempo.

Minha dúvida é de qual corrente eu seria um adepto, que tipo de vaidade eu me sentiria mais confortável para analisar e dar meus pitacos. A dos políticos, nem pensar! Vaidade sem ética e legitimidade duvidosa, causada pelo poder temporário e sarcasticamente legalizado por meios legalmente corruptíveis. A dos pobres que em ricos se metamorfosearam também não me atrai. Afinal, o novo-riquismo é uma vaidade sem glamour, odor perfumado de aroma vulgar teimando em ocupar espaço entre as melhores essências, mesmo com o dinheiro insistindo em expulsá-lo à custa de bons cursos de etiqueta, viagens caríssimas e rega-bofes boca-livre. Não funciona, o enriquecimento súbito é incapaz de refinar gostos, modos e estilo de vida impregnados de vulgaridade.

Qual corrente escolher, então? Tive um estalo. Administrador de Vaidades Estéticas. Sigla AVE. E daria preferência às mulheres, especialistas tarimbadas em vaidade. Elas sabem equilibrar bem as coisas, têm conhecimento milenar. Sem contar o requinte. Tudo isso guiado com a maestria da delicadeza feminina, capaz de colocar graça até em exageros.

Muito melhor do que administrar os excessos de músculos, bocas desbocadas, grosseria intrínseca, carrões, cerveja em garrafinhas verdes, beligerância à flor da pele e todas aquelas desarmonias da testosterona… da outra banda humana da Terra.

*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante

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