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Aulas e lições
Um grande amigo me perguntou o que é ser professor. Pensei, é ser tanto e tão pouco, é ter razão e emoção, é envolver-se e distanciar-se. De tantas vivências que tive a oportunidade de “viver”, caindo na “armadilha” da memória recente, resolvi relatar uma delas.
Há poucos dias, no final de uma aula considerada normal, um aluno me abordou emocionado e chorando, agradecendo por eu ter provocado a discussão de um caso de ensino sobre a inserção de uma mulher trans no mercado de trabalho.
O artigo Einar ou Lili? Os desafios de uma transexual no mercado formal de trabalho (Maurício Paniza, Elisa Ichikawa e Marcio Cassandre), publicado na revista GVcasos, da FGV, relata a experiência de trabalho da personagem real em duas empresas. Na primeira, ela vivenciou a experiência da transição. Na segunda, foi admitida já como mulher transgênero.
Aos prantos, o aluno mencionou a perda de uma amiga trans há poucos dias, que não sabia como as pessoas não respeitavam as diferenças, a diversidade. Eu não fazia a mínima ideia da dimensão que abordar esse caso teria, apenas queria discutir a diversidade nas organizações. Emocionada, eu abracei meu aluno com carinho, tentando transmitir o sentimento que imediatamente passei a dividir.
Ser professor é se entregar além das responsabilidades previstas na atividade. É mágico pensar que apenas cumprimos as obrigações do ofício e perceber que fomos além do esperado. Ao viver aquela experiência, confesso que tive uma compreensão imediata da sua dimensão, uma espécie de feedback silencioso!
Talvez por viver no litoral, me ocorreu uma tangência ao pensar na minha atividade no magistério, é mesmo um trabalho “com emoção”, lembrando os passeios de buggy aqui no Nordeste, quando, logo na saída os bugueiros perguntam “Com emoção ou sem emoção?”.
Temos momentos árduos, planejar as aulas, corrigir trabalhos, postar e justificar as notas. Ah…, responder a mesma pergunta “trocentas” vezes. Dar aula é o mínimo, é o que há de melhor neste trabalho. No final, a recompensa emocional compensa. Financeira? Talvez o país aprenda em algum ponto do tempo a dar o devido valor à educação, o que poderá corrigir tantas distorções que nos atingem.
Gosto de pensar na grande recompensa que é ver nossos alunos avançando na vida, alguns com inegável destaque. Dá um gostinho de saudade essa certeza de que estamos ali de alguma maneira.
*PATRÍCIA WHEBBER, advogada e professora