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Setembro Amarelo
- Ricardo Viveiros
O World Suicide Prevention Day (WSPD), para nós Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, é data de conscientização destinada a motivar os povos, em nível internacional, no objetivo de evitar suicídios. A Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio (IASP) soma esforços com a Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Federação Mundial para Saúde Mental (WFMH) na promoção da importante iniciativa.
No Brasil, foi criada a campanha “Setembro Amarelo” tendo como inspiração a data.
A taxa de suicídios a cada 100 mil habitantes aumentou 7% em nosso País, ao contrário do índice mundial, que caiu 9,8%, segundo dados da OMS. O suicídio foi a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos, logo após os acidentes de carro. Entre os adolescentes de 15 a 19 anos, foi a segunda principal razão de óbito entre meninas (após condições maternas) e a terceira principal em meninos (após lesões em desastres e violência interpessoal).
Os índices são alarmantes: cerca de um milhão de pessoas acabam com suas vidas todos os anos no planeta, o que equivale a uma morte a cada menos de um minuto. Cerca de 80% dos casos ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil.
O assunto suicídio ainda é um tabu, embora tema de série na internet. E está cada vez mais preocupante, em especial, como dito acima, entre jovens. Há, portanto, uma crescente epidemia de suicídio agravada pela pandemia da Covid-19.
A vida só perde o sentido, quando acaba a esperança. E o que é a esperança? Não é apenas um sentimento, mas, acima de tudo, uma convicção pessoal, uma certeza de que a vida vale a pena. Não há esperança sem sonhos, projetos, desejos — motivos para existir.
Viver vale a pena porque você não é dono da vida. Porque não foi você que se inventou, criou e integrou ao mundo. Você não sabe o que vai acontecer no futuro, você pode arquitetar o amanhã ao seu jeito. Cada pessoa é única. Portanto, valiosa como os diamantes. E eterna como eles, porque mesmo depois de sua morte será lembrada pelo que fez, representou. Enfim, porque viveu. Não porque morreu.
O suicida não é um covarde, é um corajoso desesperançado.
O escritor francês Albert Camus disse que a única questão verdadeiramente séria da filosofia é o suicídio. A rigor, acho que esse é o mais complexo aspecto do mistério de existir. Morrer por suicídio é uma escolha, uma questão íntima. Uma atitude diante do sofrimento intenso. Uma opção definitiva que se contrapõe aos muitos que morrem sem querer, lutando para continuar vivendo.
Há saída para o suicídio? Sim, há. E só depende de um olhar duplo e, aparentemente, antagônico. Um olhar fechado no ponto mais profundo do seu ser e aberto para todos os pontos do Universo. Vontade de criar uma ponte segura entre você e as infinitas possibilidades da vida. Para descobrir sua conexão com alguma delas. E existem.
Se você acha que não serve para viver, tenha certeza de que você é importante para a vida de alguém ou, até mesmo, de muitas pessoas. Há crianças que foram muito desejadas por seus pais e que, em razão do destino, nasceram com sérios problemas físicos e mentais. São seres aparentemente frágeis para a vida, mas, por outro lado, a razão de ser da vida dos que lhes cuidam com amor e carinho.
Há pessoas que tentaram o suicídio, não morreram e se tornaram brilhantes personalidades, descobriram curas para doenças, criaram meios para melhorar a vida de todos. Qualquer ser humano com problemas pode ser útil, a si mesmo e ao próximo. Um bom exemplo é o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking, que tentou o suicídio e, para o bem da humanidade, não morreu.
“Viver é perigoso”, disse o romancista brasileiro Guimarães Rosa. Por isso mesmo, viver também é fascinante, mágico, desafiador. Morrer não oferece oportunidade, viver permite chances de mudar qualquer cenário.
Experimentamos tempos difíceis. Cada um tem suas dores. Entretanto, devemos ponderar que é melhor matar a morte do que perder a vida.
*RICARDO VIVEIROS, jornalista e escritor