Por Heraldo Palmeira
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18 de maio de 2024

Subiu a bandeira!

StockSnap/Pixabay

Subiu a bandeira!

  • Heraldo Palmeira

O impedimento é uma das regras mais inacreditáveis do futebol e há muito tempo devia ter sido banido. É justo pensar que fazia algum sentido quando foi estabelecido, mas a evolução do esporte, inclusive na parte física, torna sua manutenção algo no mínimo obsoleto. Basta ver os transtornos que acarreta para os jogos.

O impedimento é a cara do tempo em que Mário Vianna, ex-juiz que virou comentarista de arbitragem – Arnaldo Cezar Coelho é apenas subproduto – berrava ao microfone da Rádio Globo um sonoro “Banheeeeiiiiraaaa!”, que se espalhava pelos milhares de radinhos levados pelos torcedores ao estádio. Ele criou esse bordão para referendar a marcação de impedimento do juiz e desmoralizar o atacante que ficava tentando se dar bem, como se estivesse se refrescando numa banheira.

Essa regra virou um problema complexo. Interrompe partidas, muitas vezes exige interpretação dos árbitros e prejudica resultados por decisões equivocadas. Para tentar minimizar tantas controvérsias, a International Football Association Board (IFAB), órgão encarregado de determinar as regras do futebol, aprovou a realização de testes que poderão trazer mudanças importantes nessa regra anacrônica. A ideia é diminuir os lances ajustados – teria grande impacto no jogo – e melhorar a imagem negativa que o Video Assistant Referee (VAR) adquiriu.

A novidade ora proposta é simples: só haverá impedimento se o jogador estiver com todo o corpo à frente do penúltimo defensor adversário. Ou seja, aquele negócio de parar o jogo e anular a jogada porque um pelinho da perna do atacante estava adiante do defensor ganharia uma placa definitiva de ridículo. É um passo adiante. Oxalá não demore!

A última inovação nessa regra foi a utilização da tecnologia do impedimento semiautomático, aprovada pela FIFA e adotada por algumas ligas como a italiana e a saudita. O sistema é inovador, mas demanda altos investimentos ao exigir cerca de 20 câmeras distribuídas pelo campo, inclusive no teto. Ou seja, inviável para grande parte das federações, ocupadas em administrar uma maioria de estádios precários em vários pontos do mundo.

Findos os testes, a adoção do novo critério de impedimento dependerá da avaliação da IFAB e dos demais atores do futebol mundial.

Uma regra obsoleta Os campos de futebol oficiais foram criados com medidas que podem variar entre 90m e 120m de comprimento, e 45m e 90m de largura. No século 19, quando o esporte começou a se estabelecer de forma internacional, a preparação física estava resumida a pouca coisa além da calistenia e da própria capacidade individual dos praticantes.

Com o passar do tempo, vimos os atletas sendo transformados em verdadeiros cyborgs para compor esquemas táticos cada vez mais amparados na capacidade física. Nos dias de hoje, durante uma partida de futebol, boa parte dos jogadores se amontoa num grande bloco orientado pelo movimento da bola. E esse amontoado de gente geralmente ocupa cerca de 1/3 do campo.

O resultado não poderia ser outro: o encolhimento do futebol-arte diante da correria, já que os craques não conseguem dar três passos com a bola dominada sem sofrerem o combate de um blindado de chuteiras.

Banir o impedimento simplesmente obrigaria os “professores” e “misters” a criarem esquemas que espalhassem seus cyborgs pelo campo inteiro, sob pena de goleiros ficarem vendidos num mano a mano com atacantes habilidosos. Ao fim e ao cabo, os amontoados seriam desfeitos, as lesões diminuiriam, o espetáculo voltaria aos gramados e o futebol agradeceria.

História Não há registros precisos sobre o surgimento do futebol. Uma corrente de historiadores acredita que os ingleses adotaram o hábito de chutar bolas de couro como referência à cabeça de um soldado da Dinamarca, enquanto comemoravam a expulsão dos invasores dinamarqueses no século 10.

O jogo seguiu praticado sem regras estabelecidas e num clima de grande violência. Eram tolerados diversos tipos de agressão para atacar ou defender, gerando grande saldo de feridos ao fim das disputas. Temendo baixas no seu Exército, no século 14 o rei Eduardo II proibiu a prática do esporte na Inglaterra. Mesmo assim, o futebol continuou sendo jogado de forma mais reservada, até que a proibição foi suspensa em 1681.

Somente em 1830 surgiram The Football Rulles, as primeiras regras escritas para o futebol, criadas no colégio Harrow. Ali ficou estabelecido que cada lado teria 11 jogadores, bem como as traves para onde a bola deveria ser levada como meio de marcar pontos. Como cada colégio tinha suas próprias regras, os diretores das principais instituições se reuniram em 1848 e unificaram seus manuais para as disputas escolares. O resultado foi positivo porque ampliou a aceitação do esporte no sistema educacional e na elite social.

Com a fundação da Football Association (FA) em 1863, houve a formulação de regras gerais para a prática do futebol – passaram a ser responsabilidade da IFAB a partir de 1886 – e teve início a montagem de campeonatos e partidas oficiais. Com isso, veio a expansão do esporte e as regras foram se tornando universais.

Para viabilizar um torneio entre países, em 1904 dirigentes da Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Holanda, Suécia e Suíça se reuniram em Paris e fundaram a Fédération Internationale de Football Association (FIFA). A Inglaterra aderiu de imediato e logo estavam filiadas Alemanha, Áustria, Itália e Hungria, num movimento que incentivou a adesão de países de diversos continentes. A nova instituição adotou as regras estabelecidas pela IFAB.

Em 1932 a sede mudou para Zurique, Suíça, hoje a FIFA tem mais filiados do que a Organização das Nações Unidas (ONU) e o futebol virou um dos maiores negócios globais.

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