Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

SYLVIO MAESTRELLI O administrador de vaidades 2

Skitterphoto/Pixabay

O ADMINISTRADOR DE VAIDADES 2: Uma utopia

  • Sylvio Maestrelli

Tocou o celular. Um grande amigo, irmão de coração – mesmo! – do outro lado da linha. Recebera a missão de escrever algo sobre o administrador de vaidades. E me pedia sugestões. Caramba, pensei comigo mesmo, só faltava mais essa! Já há quem estude a administração de empresas, já há quem palestre sobre administração de conflitos, mas nunca me veio ao pensamento que alguém pudesse teorizar sobre ser um administrador de vaidades!

Comecei a refletir sobre os conceitos. Fui buscar na sabedoria dos romanos suas etimologias. Administrador? Tudo bem, um gestor, um gerenciador, a palavra envolve até mesmo o sentido de controlador. Vaidades, no plural? Vamos lá, vem de vanitas, que significa aquilo que é vão, fútil e ilusório, ao que mestre Aurélio acrescenta “presunçoso”. E segundo Aristóteles, vaidade pode até ser considerada um vício. Ou seja, a palavra só tem conotações negativas. Credo!

Então, tá! Podemos, a partir daí, chegar à conclusão que administrar vaidades consiste fundamentalmente em controlar seu próprio vício ou gerenciar os vícios dos outros. Vamos começar por nós mesmos. Olhar no espelho e se reconhecer vaidoso talvez seja o primeiro passo. E fazer isso sem narcisismo, se torna um desafio. A dificuldade começa aí. E prossegue quando tentamos nos antecipar a uma atitude vaidosa de nossa parte, preventivamente. Imagine só: alguém faz um baita elogio a você – pela beleza, pela inteligência, pela conquista de algo, por qualquer coisa. Como reagir? Se ficou indiferente, parece estar tomado pela soberba ou pela antipatia – quem é você para ignorar um elogio? Se ficou “com a bola cheia”, pronto: está se achando, que indivíduo vaidoso! Sem saída, não?

Agora, imagine ser o administrador das vaidades de alguém ou de um grupo, que encrenca braba! Coloque-se no lugar de um diretor de novelas da Globo, de um técnico de seleção de futebol ou de um empresário de uma megaestrela da música pop, da TV, do cinema, dos esportes. Vai aconselhar Fernanda Montenegro a se expressar segundo sua preferência e não a dela? Vai pedir ao Cristiano Ronaldo que não sorria fazendo gestos para o telão do estádio, ao comemorar um gol decisivo? Vai censurar Roberto Carlos por exigir azul no camarim? Vai condenar o figurino extravagante de Elton John? Vai reprimir o exibicionismo de estrelas hollywoodianas? Que sinuca de bico, e pela bola 7!

Administrar vaidades pode ser visto como uma utopia. Até porque, quando nos arvoramos a administrar algo, embutimos nessa ação o pressuposto de que sabemos fazer isso, temos talento e conhecimento suficientes – nos campos da gestão, da psicologia, da didática, da sociologia, da filosofia e tantos outros. Só esse pensar já não pode ser uma bela expressão de vaidade? Só de pensar nisso me arrepio. Quem somos, se o próprio Sócrates, gênio grego, sabia – e dizia – que nada sabia? Nossa vaidade se justifica?

Então, vou ligar – e é agora – de volta e dizer para o meu best friend, com toda simplicidade e o mínimo de empáfia: “Deixa pra lá! Larga a mão de pensar que a vaidade pode ser administrada”. Aliás, nem ela, nem nada. O dicionário não registra, mas a gente sabe que na vaidade também aparece – de forma sub-reptícia – o conceito de emoção. E quem, de verdade, controla emoções? Eu é que não…

Melhor pensar nas palavras aparentemente simples da canção do Rei “Mas eu estou aqui vivendo esse momento lindo…”. Apenas. E já é mais do que suficiente. Afinal, é uma confissão de nem tudo foi perfeito, mas valeu a pena. Dito/cantado sem qualquer vaidade, a ponto de “E às vezes eu deixei você me ver chorar, sorrindo”. O que posso dizer ao administrador de vaidades? Deixe o cara exigir azul no camarim.

*SYLVIO MAESTRELLI, educador

Ouça aqui

Emoções   https://open.spotify.com/track/0xdRjhp5zF4grVrDhrF0U0?si=afc1cfacc2db4f93

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