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Tiro e queda?
- Heraldo Palmeira
Qualquer pessoa, quando adoece, tem um sonho: que o remédio faça efeito rápido para eliminar o desconforto da enfermidade. Imagine para quem padece da famigerada enxaqueca, que impõe até 15 dias de sofrimento por mês.
De caráter hereditário, a enxaqueca é reconhecida como um dos tipos mais comuns de dor de cabeça e atinge de 10% a 20% da população. É comum estar acompanhada de náusea, vômito, tontura, incômodo visual, formigamento, sensibilidade a barulhos, odores e luminosidade.
Felizmente, uma boa notícia pode estar a caminho. A revista científica Neurology publicou novo estudo em que pesquisadores realizaram uma análise de dados de três ensaios diferentes sobre a segurança e eficácia do medicamento atogepant.
As pesquisas envolveram 1.243 voluntários durante 12 semanas e consideraram dois tipos de enxaqueca: episódica e crônica. Em todos os casos, o fármaco apresentou efeito imediato. “Esses resultados são empolgantes, pois a enxaqueca pode ser debilitante, e esse tratamento levou a menos dias com enxaqueca para pessoas que já haviam experimentado até quatro outros tipos de medicamentos para prevenir o problema, e não tiveram melhora ou tiveram efeitos colaterais que superaram os benefícios”, disse em comunicado uma das autoras do estudo Patricia Pozo-Rosich, pesquisadora no Vall d’Hebron University Hospital, em Barcelona.
É uma boa novidade num cenário em que os remédios tradicionais demoram a surtir efeito. “Algumas pessoas desistem e param de tomar os medicamentos antes de chegarem a esse ponto. Além disso, muitas pessoas apresentam efeitos colaterais com os tratamentos atuais. Desenvolver um medicamento que funcione de forma eficaz e rápida é essencial”, aponta um dos autores do estudo, Richard Lipton, do Albert Einstein College of Medicine no Bronx, em Nova York, e membro da Academia Americana de Neurologia.
Ministrado via oral em dose única diária, o atogepant combate a enxaqueca episódica e crônica atuando sobre uma proteína relacionada ao gene da calcitotina, bloqueando o receptor CGRP, que tem papel determinante no início do processo de enxaqueca. “A enxaqueca é a segunda principal causa de incapacidade na população em geral e a principal causa de incapacidade em mulheres jovens, com pessoas relatando efeitos negativos em seus relacionamentos, criação de filhos, carreira e finanças. Ter um tratamento que pode agir de forma rápida e eficaz aborda uma necessidade fundamental”, acrescenta Lipton.
Durante o estudo, os voluntários que tomaram o medicamento apresentaram constipação (10%) e náusea (7%). Como a duração da pesquisa foi relativamente curta (três meses), os cientistas reconhecem que outras experiências serão necessárias para estabelecer a segurança e eficácia do medicamento a longo prazo. Apesar das notícias promissoras, no âmbito da ciência há um longo caminho até algo ter um nível de eficiência considerado “tiro e queda”.
O atogepant foi aprovado nos EUA e União Europeia para o tratamento da enxaqueca episódica e crônica. No Canadá, apenas para a episódica. No Brasil, ainda não tem aprovação regulatória da Anvisa.