Por Heraldo Palmeira
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21 de novembro de 2024

U2 em casa

Divulgação/Disney

U2 em casa

  • Heraldo Palmeira

GIRAMUNDO VIU O especial em formato de documentário Bono & The Edge | A Sort of Homecoming (Bono & The Edge | Uma Espécie de Regresso a Casa com Dave Letterman), dirigido por Morgan Neville e lançado em 2023, é uma belíssima surpresa disponível no canal Disney+. O filme mistura música, história e entrevistas exclusivas, enquanto acompanha a montagem de um show intimista com os líderes da banda irlandesa U2, o vocalista Bono Vox e o guitarrista The Edge – o baterista Larry Mullen Jr. estava machucado e o baixista Adam Clayton estava participando de um filme de arte –, aproveitando um intervalo entre turnês.

A história começou um pouco antes das gravações, durante o período de isolamento imposto pela pandemia de Covid-19, quando Bono e The Edge resolveram revisitar muitas das principais canções e registrá-las em formato acústico para um futuro reencontro com seu público.

Concluído o trabalho dos novos arranjos, decidiram realizar o documentário cuja base é a preparação e gravação de um show especial na Redoma, local que domina o prédio do antigo cinema Ambassador – que antes abrigou um hospital onde quase toda Dublin nasceu, inclusive Bono – e hoje é um local de eventos. Foi aí que o vocalista convidou um velho amigo, ninguém menos que o apresentador de TV norte-americano Dave Letterman, para ir à Irlanda acompanhar tudo. O resultado é encantador sob diversos aspectos.

Incluindo alguns registros do início de carreira, trechos de shows gigantescos ao redor do mundo e outras passagens importantes da história da banda, o documentário esbanja imagens musicais inéditas e entrevistas de grande sinceridade, se debruçando também sobre a inspiração por trás de tantos sucessos e o processo de composição dos artistas.

Na verdade, as câmeras abrem foco para a jornada épica de Bono Vox e The Edge como músicos que, ao longo de 50 anos, construíram uma das amizades mais sólidas e marcantes da história da música mundial. Além de mostrar sem nenhuma afetação o mundo real do U2 e a intrínseca ligação da banda com sua cidade e seu país, vai se revelando a real importância da música do grupo para as grandes mudanças positivas que ocorreram na Irlanda, desde que os então meninos começaram a juntar cada vez mais gente em suas apresentações a partir de 1976..

Eram tempos sombrios em que várias gerações irlandesas viviam cercadas pela violência oriunda de antigas questões políticas, territoriais, nacionalistas e religiosas, e não tinham grandes expectativas: “Na infância, na Irlanda, parecia que o futuro estava sempre em outro lugar. Na nossa Dublin, parecia que não havia presente, que dirá passado ou futuro”, relembra Bono.

O filme mostra claramente que o U2 manteve as velhas amizades e que os grandes amigos continuam ao redor em grande harmonia. Todos concordam que os caras continuam os mesmos, algo que fica óbvio pelo tipo de convivência quando estão juntos.

Na verdade, esse é um ótimo epílogo para uma banda que surgiu no ambiente da Mount Temple, escola secundária protestante mantida pela Igreja da Irlanda. “A banda nasceu de uma cultura de uma escola específica numa época específica. Foi um experimento social no nosso país. Era ecumênico, gente de todas as religiões podia vir e, o mais importante para mim, meninas e meninos” exalta Bono.

A relação com Dublin e os velhos amigos foi fundamental para a banda. “Acho que o que todos recebemos de Dublin é uma ligação real com nossas vidas normais. Nossos amigos são os mesmos de quando tínhamos 15, 16 anos. Todos os membros da banda foram protegidos dos piores excessos do estrelato do rock’n’roll por estarem aqui”, reconhece The Edge.

Assumir o desafio de retirar a força musical roqueira da banda e redesenhar os arranjos de canções icônicas para um espírito muito mais delicado confirma a distância do U2 de zonas de conforto. Não é à toa que o grupo é reconhecido por estar sempre associado a inovações. Algo que Letterman registra enquanto passeia por Dublin ao encontrar referências que transformaram a banda num colosso criativo e popular.

O convite ao amigo famoso serviu para que ele pudesse vê-los executar, pela primeira vez ao vivo, diversas canções reinventadas. Para compensar a ausência de Adam e Larry, foram convidados músicos, amigos de longa data e estudantes de toda Dublin para ajudar. É encantador ver um naipe de violões composto majoritariamente por mulheres, realçando o tom ecumênico dos tempos de colégio que Bono destacou. O resultado é um show intimista, diferente de tudo que fizeram até hoje, mas com o mesmo tom poderoso de sempre.

Ao final de tudo, o amigo Letterman faz um agradecimento emocionado a quem está ao redor num pub de Dublin. E vai embora de alma lavada da sua primeira visita à Irlanda, levando a tiracolo um presente especial dos dois amigos: a canção 40 Foot Man, delicada homenagem à visita que ele fez ao Forty Foot, um promontório na ponta sul da baía de Dublin onde as pessoas mantêm uma tradição de mais de 250 anos: nadar no mar da Irlanda o ano inteiro, qualquer que seja a estação e a temperatura da água.

De propósito, a canção abusa do vocaliseUh-uh” como fina ironia dos compositores a uma pergunta espirituosa de Letterman numa das entrevistas.

Veja o trailer

https://www.youtube.com/watch?v=nWxjq1brCuQ

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