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Uma mãe, uma noite
- Kalunga Mello Neves
Em que estou pensando numa noite de fevereiro? Nas suas atitudes, a atitude do amor. No seu mais simples gesto, a simplicidade em sua plenitude. Ela se confunde com o que há de mais sublime em se tratando de sentimentos bons.
As mães mudaram, algumas em sua essência, porque nada é igual ao que era antes. Permanece, mesmo nas que mudaram, a culpa inconsciente por não serem melhores. A vida é cruel até com elas, não devia. Mas nunca deixarão de ser o que são, e serão perdoadas até por não serem o que deveriam ser.
Eu sempre gostei da minha. Por tudo que ela me ensinou, por tudo que não aprendi com ela. Pelo caminho que me indicou seguir, por não me mostrar todos os atalhos. Pelo abraço protetor a me cobrir das mazelas do mundo, por não me encorajar a enfrentá-las sem receio.
A minha provocava, sem se dar conta, ternas vontades e reações intempestivas que não passavam de um só pensar apenas. Provocava vontades de lhe acarinhar e sorrir em silêncio, sentindo o calor do seu peito. Instigava reações planejadas minuciosamente para fugir de casa só para vê-la sofrer. Quantas vezes eu senti pena dela e pena de mim por sermos quem éramos. Ao mesmo tempo, eu queria ser mais para ela ser mais para mim também.
Quanto mais ela me ensinava, mais eu fingia não querer aprender. Sua paciência desesperada me inquietava. E fui crescendo assim, jamais querendo dela me separar, sempre querendo ir mais longe sozinho, desde que seu olhar não me perdesse de vista.
Eu poderia ter sido mais compreensivo, mais presente, mais agradecido. Mas, ela me criou para ser uma pessoa boa simplesmente, ser alguém, ser justamente como sou hoje. Uma pessoa feliz com minha família, amigo dos meus amigos, sem querer ser mais do que sou, e, claro, agradecendo por isso.
Obrigado, mãe, por tudo. Seu menino crescido, já de cabelos brancos, ainda não quer que você deixe de perguntar se está faltando um cobertor para melhor se agasalhar numa noite de frio. Obrigado, mãe!
*KALUNGA MELLO NEVES, escritor e brincante