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Vareio
- Heraldo Palmeira
O futebol brasileiro viveu uma semana de excelência no âmbito da América do Sul. E isso se traduziu em campo nas semifinais da Libertadores, com um vareio materializado numa chuva de gols em Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
O Galo amassou o River Plate com 3×0 e, depois desse primeiro baile, o Botafogo – mesmo demonstrando alguma imaturidade no primeiro tempo na demora de reconhecer sua superioridade abissal sobre o adversário – esmagou o Peñarol por 5×0. Ou seja, nossos vizinhos argentinos e uruguaios têm pela frente missões quase impossíveis nos jogos de volta.
O que mais saltou aos olhos na construção desses placares? Que os sempre pretensiosos argentinos e uruguaios não estão com bola para arrotar uma grandeza cheia de mofo e que desmanchou no ar faz tempo. Nesses dois jogos ficaram sem sinal de GPS, perderam a noção de onde estavam. Os adversários brasileiros não tomaram conhecimento de suas atuais insignificâncias.
Sim, todo cuidado é pouco porque estamos transitando no curral da CONMEBOL, sempre simbiótica com federações sul-americanas e controlada por não brasileiros. Essa turma não disfarça o incômodo com a inegável, demorada e cada vez mais forte hegemonia do futebol canarinho no continente.
É insuportável assistir a impunidade de times que entram em campo para praticar o antijogo, como o Peñarol fez contra o Flamengo na fase anterior e no primeiro tempo de ontem contra o Glorioso. E essa impunidade se dá pela postura esquisitíssima de suas senhorias vestidas de preto e com um apito na boca.
Ora bolas – além das muitas que balançaram as redes –, basta um cartãozinho amarelo logo na primeira gracinha para acalmar uma maioria de peladeiros violentos. Já não passou da hora de proteger os craques desses “bondes”? Não é indigno ver que estratégias espúrias passam a ser tática de jogo, como a cera do goleiro e o cai-cai dos uruguaios fingindo pancadas que não aconteceram, ou provocar adversários “amarelados” depois do jogo tentando cavar uma expulsão? Uma boa (e polpuda) multa para clubes e jogadores seria didática.
Também soaria civilizado evitar que a altitude insuportável siga favorecendo de forma vergonhosa os times locais. Ora, que se jogue ao nível do mar. Seria justo para todos.
A CONMEBOL tem agora um problema se desenhando no horizonte. Talvez acreditando (ou esperando?) que a final seja entre River Plate e Peñarol, marcou o jogo no estádio Más Monumental (do River), que comporta 84.567 pessoas. Salvo um ciclone subtropical que pode soprar loucamente algum apito, a decisão da Libertadores não deverá fugir da lógica Galo x Botafogo. E daí vem o nó, pois dificilmente haverá brasileiros suficientes em Buenos Aires para lotar a arena. Menos provável ainda, hermanos e outros platinos interessados em prestigiar uma final verde-amarela. Na verdade, alvinegra.
Outra coincidência que sai destas duas partidas de ida das semifinais vem dos bancos de reservas. Lá estavam dois técnicos estrangeiros, o argentino Gabriel Milito e o português Artur Jorge, comprovando que novos ares começam a soprar por aqui.
Milito e Jorge fazem parte de um grupo onde também estão o português Abel Ferreira, os argentinos Juan Pablo Vojvoda, Luis Zubeldia e os brasileiros Rogério Ceni, Vagner Mancini, Jair Ventura, Roger Machado, Rafael Paiva e o neófito surpreendente Filipe Luís. São eles que vêm causando uma animadora modernização do futebol brasileiro.
O benefício adicional dessa onda renovadora é empurrar para longe dos gramados gente como Felipão, Tite, Luxemburgo, Mano Menezes, Cuca, Fernando Diniz, Fábio Carille, Abel Braga, Renato Gaúcho… completamente desatualizados, sem nada mais a acrescentar às próprias histórias e com fortunas suficientes para garantir uma vida boa. Que aproveitem!
Depois que o Botafogo lambuzou um inexistente Peñarol com aquele impiedoso chocolate, a torcida do Flamengo reabriu uma ferida raivosa contra Tite, que desembarcou na Gávea desorientado pelos seis anos vexaminosos na Seleção e quase destruiu o time mais estrelado do país. O resumo desse sentimento coube ao jornalista Renato Mauricio Prado, que não nega sua simpatia pelo rubro-negro: “O massacre do Botafogo sobre o Peñarol é mais uma prova incontestável da bosta fedorenta que era o trabalho do Tite e Titinho no Flamengo. Parabéns aos que resolveram mantê-los até o duelo com os uruguaios. Landim e Braz”. Sim, um tiro de misericórdia em quem perdeu o timing para sair de cena sem passar vexame.
A mídia pacheca convencionou chamar de “garra” aquele conjunto de milongas, provocações, catimbas e deslealdades de boa parte desse futebol sul-americano empobrecido e que tenta ganhar no grito. A próxima missão de Galo e Botafogo é clara: fugir desse antijogo que, quase certo, argentinos e uruguaios colocarão em campo nos jogos de volta. A receita é simples: jogar a mesma bola e servir mais chocolates impiedosos, mantendo um olho na bola e outro no juiz. E esperar que suas torcidas também façam bonito nas arquibancadas. Afinal, como vimos, a cerca é baixa e onde passa boi, passa boiada.