Por Heraldo Palmeira
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23 de novembro de 2024

Volta ao escritório

Serbuxarev/Pixabay

Volta ao escritório

  • Heraldo Palmeira

Com a explosão da pandemia, as empresas encontraram uma saída óbvia para a manutenção das atividades: o uso intenso da tecnologia e grandes adequações nas rotinas operacionais como meio de seus empregados desempenharem as funções esperadas.

O trabalho remoto, algo até ali acessório no mundo corporativo, ganhou o centro do palco na nova ordem mundial que começou a surgir. De repente, qualidade de vida entrou na lista de itens de grande importância na oferta de vantagens dos empregadores nas negociações trabalhistas. Num ambiente desconhecido e dominado pelo medo, deixar o empregado seguro e confortável em casa, ao lado da família, era algo com grande poder de sedução.

Agora, muitas das empresas que adotaram de forma pioneira o trabalho remoto, começam a pressionar seus empregados para retomarem o modelo presencial, mas enfrentam a resistência do que se passou a chamar “laptop class” – um número cada vez maior de pessoas com condições, inclusive financeiras, de trabalhar e estudar em qualquer lugar do mundo utilizando dispositivos digitais.

É um desafio que está se mostrando difícil de contornar, até porque pelo menos 25 países criaram condições tecnológicas e legais para receber os nômades digitais. Ao mesmo tempo que incrementam suas economias combalidas e combatem o êxodo populacional, oferecem aos novos moradores infraestrutura tecnológica de primeira linha e condições de vida encantadoras. Por isso, grande número de pequenas vilas europeias anda festejando esse modelo, que permite aos novos moradores vivenciar novas experiências culturais e viver temporadas em lugares fascinantes. O resultado é claro: hoje, 35 milhões de pessoas se identificam como nômades digitais e a estimativa aponta que serão 1 bilhão até 2035.

Esse mar de tranquilidade começa a sofrer ataques de vozes poderosas, apontando que essas pessoas desejam viver num mundo de fantasia. “Você trabalha de casa, mas as pessoas que fabricam seu carro e preparam sua comida não podem. Isso é moralmente correto? É um problema moral. As pessoas deveriam descer do pedestal moral com essa bobagem de trabalhar em casa”, afirmou Elon Musk em recente entrevista. O dono da Tesla e do Twitter considera que a produtividade é maior no trabalho presencial e assumiu uma cruzada pública contra a laptop class.

No mesmo tom, os investidores passaram a culpar o trabalho remoto pela queda de produtividade registrada nas empresas. Gigantes como Amazon, Apple, Barclays, BlackRock, Google, JP Morgan, Tesla e Twitter começam a exigir o retorno dos empregados aos escritórios, mesmo que incialmente numa jornada menor, mantendo um modelo híbrido de trabalho.

É claro que há outros interesses gigantescos por trás desses discursos. Todas as grandes cidades do mundo enfrentam problemas econômicos resultantes da ausência de pessoas nos escritórios. O caso de Nova York é o mais reluzente: com a semana de trabalho presencial reduzido a 3 dias (terça a quinta), os trabalhadores deixam de gastar US$ 12,4 bilhões (R$ 62,2 bilhões) por ano em restaurantes, bares e comércio. De cara, a arrecadação municipal cai e traz dificuldades para manutenção do transporte público e limpeza urbana.

Tudo isso coincide com um novo cenário de crise, que gerou dois fenômenos: demissões voluntárias de pessoas que passaram a colocar qualidade de vida na lista de prioridades profissionais e uma onda de lay-offs (suspensão temporária dos contratos de trabalho que costuma acontecer em momentos de crise), em razão da situação econômica com alta de inflação e pressão de juros.

Em 2022, o setor de tecnologia surpreendeu o mundo demitindo mais de 150 mil profissionais, situação que ainda pode se manter por um tempo já que as grandes empresas ainda não encerraram seus processos de ajustes.

Saiba mais

https://www.bloomberglinea.com.br/2023/05/20/o-que-e-a-geracao-laptop-que-elon-musk-defende-que-tem-que-acabar/

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